Brief
Com o mundo caminhando para um aquecimento de 2,4 a 2,5 °C — bem acima da meta de 1,5 °C do Acordo de Paris, embora melhor do que as previsões anteriores de 4 °C —, a resiliência dos negócios foi um dos focos centrais da COP30 deste ano, em Belém, no Brasil. As milhares de grandes empresas presentes deixaram um recado claro ao mundo: apesar da lentidão das negociações políticas, elas estão determinadas a seguir adiante com ações climáticas concretas. Para essas empresas, isso é fundamental para se manterem competitivas, atrair investimentos e gerar valor a longo prazo.
Navegar esse cenário não é tarefa simples. Cada grande emissor tem seus próprios recursos naturais e interesses geopolíticos, e as políticas padronizadas já não fazem mais sentido. Em vez disso, os países estão adotando medidas alinhadas às suas realidades econômicas e climáticas — desde investimentos diretos até normas regulatórias e incentivos. Para as empresas, especialmente as multinacionais que atuam em vários mercados, é essencial entender os sinais que cada país vem dando. As estratégias bem-sucedidas vão depender cada vez mais da combinação inteligente entre políticas públicas, tecnologia e o comportamento do consumidor — muitas vezes considerando as particularidades de cada região.
Mesmo com toda essa complexidade, três frentes se destacaram como sinais claros de compromisso e ação concreta, dando um tom especial à “COP da Amazônia” deste ano:
1. O setor financeiro está ajudando a transformar promessas em ação
Ferramentas financeiras inovadoras — desde modelos de financiamento misto até mercados de carbono em evolução — estão aproximando os compromissos da execução. Propostas como a de alcançar US$ 1,3 trilhão em investimentos anuais, públicos e privados, em financiamento climático até 2035, além do lançamento de um Marco Global de Prestação de Contas em Finanças Climáticas para aumentar a transparência e a confiança, mostram como é importante fechar essa lacuna entre promessas e ação.
Investidores estão cada vez mais atentos a estratégias climáticas e modelos de negócio que usem a descarbonização como caminho para gerar fluxo de caixa real. Também estão observando com mais rigor os dados sobre riscos físicos e planos de transição para emissões líquidas zero — especialmente em mercados emergentes. À medida que grandes empresas se envolvem mais com acionistas e investidores, e o planejamento para a transição climática passa a fazer parte da regulação financeira em várias partes do mundo, ter um plano claro para mitigar riscos climáticos — e outro viável para gerar valor — se torna mais essencial do que nunca.
2. Cadeias de suprimento resilientes e circulares serão essenciais para os alimentos e combustíveis do futuro
Como era de se esperar de uma cúpula apelidada de “COP da Amazônia”, temas como agricultura e combustíveis sustentáveis tiveram destaque em Belém. Novos compromissos foram firmados com foco na redução do desperdício de alimentos pela metade até 2030, na recuperação de áreas degradadas e na expansão do uso de energia de base biológica. A iniciativa brasileira RAIZ, voltada para restauração de terras, e o compromisso “Belém 4X” — que pretende quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis até 2035 — mostram como os objetivos climáticos estão cada vez mais ligados à estratégia industrial. Para as empresas, esse movimento deixa ainda mais claro o quanto é importante desenvolver cadeias de suprimento resilientes e circulares, utilizando insumos alinhados ao clima — como os provenientes da agricultura regenerativa. Isso será essencial para manter os custos sob controle, reduzir riscos e garantir estabilidade nos sistemas alimentares globais.
3. O capital natural e o papel essencial dos ecossistemas na resiliência climática ganham destaque
Com os riscos climáticos se intensificando — algo bem evidente durante a conferência realizada em plena floresta tropical, com temperaturas acima dos 30 °C —, a COP30 trouxe os desafios da adaptação climática para o centro das discussões. Pela primeira vez, o Programa de Trabalho de Mitigação da COP incluiu, oficialmente, as florestas e as soluções baseadas na natureza como parte das ferramentas globais para redução de emissões.
Um sinal claro de que o setor privado está entrando nesse movimento foi o lançamento do Tropical Forests Forever Facility, um programa de financiamento misto que busca proteger 1,1 bilhão de hectares de floresta, ao mesmo tempo em que gera retorno de longo prazo para os investidores. Para as empresas, ficou ainda mais evidente a necessidade de avaliar riscos relacionados à natureza e garantir cadeias de suprimento livres de desmatamento.
A oportunidade para os negócios
Com as negociações climáticas internacionais entrando em seu 31º ano — e a COP31 marcada para acontecer na Turquia —, o ritmo das ações pelo clima continua firme e constante. Décadas de políticas públicas e ambição do setor privado ajudaram a construir a base tecnológica para que esse avanço prossiga. Soluções de baixo carbono nos setores de energia e transporte já ganham escala por pura lógica econômica, e alternativas para a indústria, os sistemas alimentares e a preservação da natureza estão cada vez mais presentes na pauta.
Na COP30, mais de 120 países atualizaram seus planos climáticos, reforçando o compromisso com políticas públicas nessa agenda. Paralelamente às negociações oficiais, a chamada “agenda de ação” — formada por empresas, sociedade civil e governos mais ambiciosos — vem se consolidando como um novo polo de influência. A forte presença do setor privado em Belém deixou um recado claro: independentemente do ritmo das negociações globais, as empresas estão avançando com suas próprias iniciativas climáticas.